Após a apreciação desses vídeos, desenvolvam as atividades (postadas aqui no blog). Num segundo momento crie um cordel coletivo com a classe na sala de aula e depois surgira que eles montem em grupos. Depois dessa familiarização, apresente a eles o site citado logo abaixo, onde os alunos podem criar seus próprios cordéis online, o que gera um grande estímulo, pois passam a se sentir importantes e podem ver suas produções de qualquer local, além de mostrá-las para amigos e familiares.
É super prático e fácil utilizar esse site e acredito que seus aluno, assim como os meus, irão adorar!
Segue o link do site: http://educarparacrescer.abril.com.br/cordel/
Assim que sua turma produzir, me avise, pois será um enorme prazer apreciar suas produções!
A ÁRVORE DO DINHEIRO
A Árvore do Dinheiro é uma animação desenvolvida para ser vista através de um navegador de internet, sendo a vencedora do Anima Mundi Web de 2002.
Foi dirigida por Marcos Buccini e Diego Credidio e produzida pela Quattor. A idéia dos designers da Quattor, Marcos Buccini, Diego Credidio, Luciana De Mari e Isabella Aragão, era fazer uma animação utilizando as principais características da literatura de Cordel - a simplicidade e a originalidade.
Produção
Todo o processo de criação foi orientado por pesquisas que foram feitas em Cordeis originais. Procurou-se manter a perspectiva 2D que as ilustrações do Cordel possuem e também os traços peculiares do método Xilo, pelo qual são impressas. O principal desafio enfrentado foi manter essas características desenvolvendo a animação em Shockwave Flash.
Não era desejado que parecesse algo mal feito, também não se desejava que houvesse movimentos sofisticados demais.
Feita a animação propriamente dita, passou-se para a fase de sonorização. Para narrar os versos foram convidados Sandrelly, da banda de forró Pé d'Cana. Os usuários do MadMud, William P. e Leo D., foram os responsáveis por gravar a narração e compor a música.
A narrativa a seguir é contada através de versos em sextilha e imagens animadas a partir da técnica da xilogravura.
“Há muito tempo atrásNo sertão nordestino Um cabra de nome José Se apaixonou feito menino Por Maria filha de um coroné De nome chamado AgripinoMaria e José às escondidas Viviam num chamego arretado Mas depois da missa no fim do dia A menina com o coração apertado Disse a triste notícia: Seu destino já estava traçadoSeu pai já a tinha encomendado Para Bento, filho do cumpade da região Ao saber José subiu o morro até a beirada E rezando com muita devoção Disse que faria qualquer coisa Para ter muito dinheiro na mãoJosé tinha decidido pular Quando um homem de capuz e manto se aproximou Dizendo que o podia ajudar José prontamente em voz alta retrucou Quem ele era? Aonde queria chegar?O homem misterioso explicou: Sou apenas um amigo E vim te socorrer Plante essa semente na noite de lua cheia E no outro dia você vai ver Riquezas e prosperidades dinheiro para dar e venderChegou o dia da lua cheia E José fez o que o estranho pediu Plantou a semente no local Onde o acesso ninguém nunca viu No outro dia foi verificar A pequena árvore que surgiuNo lugar das flores e dos frutos A árvore deu muito dinheiro José começou a colher tudo E deixou os bolsos cheios E correndo à cidade comprou Roupa boa e água de cheiroEm um mês Maria se casou Não com o Bento, filho do cumpade E sim com quem sempre amou José, agora com terra pela cidade Um cabra rico se transformou Com muito poder e prosperidadeJosé se transformou no mais rico do sertão Suas terras eram tão extensas Que se perdiam da visão E com um arame de espessura densa Restringiu o acesso da população A árvore que cuidava com tanta veemênciaEles tiveram filhos E foram felizes assim por muito tempo Dinheiro, poder e muito brilho Nada melhor para o seu contentamento Mais um dia a árvore morta amanheceu E José se espantou com o acontecimentoJá tendo tudo que queria Resolveu tocar a vida Sem muita preocupação Porém, José não sabia da real situação Foi quando um barulho forte à sua porta Chamou sua atençãoJosé pegou sua espingarda E se dirigiu até o portão Quando avistou o encapuzado Que tinha oferecido a semente da salvação E perguntou ao desgraçado O que ele queria entãoO homem veio cobrar a dívida E José indagando irado com a questão Parou quando o cabra tirou o capuz e disse: Sua alma é a negociação José assustado deu um passo atrás e percebeu Que se tratava do próprio SatanásJosé então desapareceu e ninguém Nunca mais o veria Mas dizem que em noite de lua Nas madrugadas mais frias Pode-se ouvir os gritos de José Chamando por Maria”.
Da Árvore do Dinheiro à Moral das Histórias
O homem contemporâneo se apresenta como um ser narcisista e individualista porque só se interessa por si, não sendo um ser coletivo preocupado com a comunidade. Temos na obra clássica da literatura ocidental e medieval o anti-herói Fausto que obcecado pela sede do saber, firma um pacto com o demônio, Mefistófeles, cuja aliança o conduzirá aos prazeres do conhecimento, da vida e do amor, representando na sua narrativa de anti-herói o homem contemporâneo, moderno.
Fausto aspira, acima de tudo, viver a felicidade. Tão remota lhe parece essa possibilidade, que ele se dispõe a entregar a alma ao demônio em troca de uma vivência, embora breve, desse sentimento. E como um anjo das trevas, o terrível Mefistófeles, domina a alma de Fausto, homem que é o símbolo de uma humanidade que errou procurando um caminho que a levasse ao ideal desesperadamente buscado. E como no nosso objeto empírico, Fausto deverá, no entanto, pagar um preço a Mefistófeles: entregar-se a ele. Nesse instante, o Diabo terá vencido Deus.
Na modernidade, há uma desvalorização de conceitos tradicionais como verdade, povo, nação, amor, respeito e família. O Deus, único dos católicos é tido como morto, a instituição do casamento é tida como instituição quebrável, as lojas de sex shop são onde se compra o fetiche e o prazer sexual e a Internet é o veículo de comunicação interpessoal de negócios, divertimento e informação. A arte e a literatura não escapam desta nova lógica, constituindo toda uma nova gramática. A cultura do ornamento e do signo, pastiche, revivals , ecletismo são alguns elementos desta nova composição.
A produção áudio-visual, da qual a animação faz parte, reflete o que já está permitido, então as pessoas introjetam estes novos valores. A característica do homem moderno construído através da mídia é que ele se permite experimentar, ele é contagiado com as novas formas de pensar e viver, este novo homem é capaz de transformar a tradição e partir para modernizá-la. A coragem deste enfrentamento pode servir como parâmetro de comparação com a atitude do protagonista que vive a jornada a seguir comentada, arcando com as mais diversas conseqüências.
Pode-se analisar, no vídeo, “A Árvore do Dinheiro”, que a narrativa dá-se no momento histórico do coronelismo do sertão nordestino. José, um rapaz humilde, em seu Mundo comum, apaixona-se por Maria, filha de um coronel. Percebe-se que o amor de José por Maria é o amor cortês que foi difundido na Europa no século XII,
“contemporaneamente aos lais bretões que atraiam o gosto das cortes para as emoções do amor e do maravilhoso feérico, surge o romance cortês, também de matéria bretã, o qual acaba por substituir as canções de gesta carolíngeas no gosto do público culto. A voga do romance cortês nas cortes européias teve início na corte de Marie de France, na Champagne”( Coelho, 2003:60-61).
O protagonista da história recebe o Chamado à aventura quando sabe, por Maria depois da missa, que a mesma foi oferecida por seu pai para casar com outro rapaz. Rituais católicos – missa e casamento – pontuam como Arautos a jornada de José, chamando-o para entrar na aventura.
José na angústia de perder sua amada (deuteragonista – personagem secundária na trama), vai rezar no morro pedindo a Deus uma solução e se colocando à disposição até mesmo para a Morte (suicídio). Como Moisés e Jesus rezaram no morro, José encontra neste lugar resignação e a solução.
Neste momento, o protagonista é abordado por um “estranho” que assume o arquétipo de Camaleão, transvestindo-se de homem misterioso portando capuz e cajado que se revela ao final da trama como o próprio Satanás.
O “estranho” também assume o papel de anti-mentor aconselhando o protagonista a plantar uma semente em noite de lua cheia que irá solucionar seu problema: obter riqueza, prosperidade e assim, podendo casar-se com Maria, seu grande amor. Esta característica de anti-mentor é ressaltada pelo presente mágico - a semente - que vai conduzir o herói a uma conduta que privilegia a ganância e o poder. Que representa, neste caso, o poder no sertão: terra, gado e dinheiro, tudo cercado por José. Contudo, esta semente além de trazer a “salvação” também vai representar a sua desgraça, pois o Satanás cobrará a dívida não negociada: a alma pela semente. O pacto com o Diabo travado por José é o mesmo que Fausto realiza com Mefistófeles.
Com a união de José e Maria, nota-se a vida harmoniosa e feliz do casal que tem filhos e cultiva uma árvore que em vez de produzir frutos, dá dinheiro. Esta árvore além de Aliada de José pode ser interpretada como presente mágico do anti-mentor xamã – possuidor de poderes sobrenaturais.
A etapa da Aproximação da caverna oculta é iniciada quando José percebe que a árvore morreu. Este evento, na verdade, é um prenúncio do porvir de José. Mesmo assim, o herói continua sua vida normalmente, mas sua Provação ainda virá. O encontro de José com o Sombra – seu antagonista – marca esta etapa. O confronto de José com o Diabo é realizado através da cobrança da dívida pendente.
Ao final da narrativa José desaparece com o diabo fazendo-se ouvir nas noites frias de lua cheia gritando por Maria. Nota-se um final infeliz marcado pela punição do herói por seus atos indevidos.
O narrador da história é onisciente neutro – aquele que narra “de cima”, adotando um ponto de vista divino, que sabe do começo, meio e fim da história. Representando, portanto, a consciência cristã que transmite a moral e os bons costumes aos interlocutores. No entanto, não interfere com instruções ou comentários sobre o comportamento das personagens. (Leite, 1987).
O vídeo é todo em preto e branco exceto em algumas passagens da história quando a cor vermelha recebe destaque nos grafismos em formato de coração. Estes momentos são percebidos quando José avista Maria com o pai no carro de boi e se apaixona feito menino; na flor que José dá para Maria na época do namoro e na representação do amor dos filhos. Finalizando a utilização do vermelho como cor de destaque, o Satanás apresenta-se a José na cor vermelha simbolicamente relacionada à paixão, dor, sexo e sangue.
O momento mítico da noite de lua cheia ressaltado também na trama pontua duas passagens relevantes: o plantio da semente mágica – onde a problematização da história inicia-se - e na transformação da história de José em lenda marcada por seus gritos chamando por Maria – finalizando a história e imprimindo a aura de mistério e medo da punição divina.~
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