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quinta-feira, 20 de outubro de 2011

CORDEL - Sugestão de VÍDEOS, ATIVIDADES E PRODUÇÕES ONLINE




     Para que o aluno comece a interessar-se pelos cordéis é necessária a apresentação desse gênero de poesia popular, mostrando a sua valorização sócio-cultural em grandes centros como São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e em todas grandes capitais nordestinas. Apresentar os  3 vídeos postados aqui no blog, do programa Globo Rural (Rede Globo), fará com que haja um contato mais próximo da história e da atualidade desses famosos livretos populares, os quais já foram até anunciados como "mortos" há vinte anos, mas que resistiram toda essa globalização e estão mais fortes do que nunca.
      Após a apreciação desses vídeos, desenvolvam as atividades (postadas aqui no blog). Num segundo momento crie um cordel coletivo com a classe na sala de aula e depois surgira que eles montem em grupos. Depois dessa familiarização, apresente a eles o site citado logo abaixo, onde os alunos podem criar seus próprios cordéis online, o que gera um grande estímulo, pois passam a se sentir importantes e podem ver suas produções de qualquer local, além de mostrá-las para amigos e familiares.
     É super prático e fácil utilizar esse site e acredito que seus aluno, assim como os meus, irão adorar!
Assim que sua turma produzir, me avise, pois será um enorme prazer apreciar suas produções!
 
 A ÁRVORE DO DINHEIRO

     A Árvore do Dinheiro é uma animação desenvolvida para ser vista através de um navegador de internet, sendo a vencedora do Anima Mundi Web de 2002.
Foi dirigida por Marcos Buccini e Diego Credidio e produzida pela Quattor. A idéia dos designers da Quattor, Marcos Buccini, Diego Credidio, Luciana De Mari e Isabella Aragão, era fazer uma animação utilizando as principais características da literatura de Cordel - a simplicidade e a originalidade.

Produção

     Todo o processo de criação foi orientado por pesquisas que foram feitas em Cordeis originais. Procurou-se manter a perspectiva 2D que as ilustrações do Cordel possuem e também os traços peculiares do método Xilo, pelo qual são impressas. O principal desafio enfrentado foi manter essas características desenvolvendo a animação em Shockwave Flash.
     Não era desejado que parecesse algo mal feito, também não se desejava que houvesse movimentos sofisticados demais.
     Feita a animação propriamente dita, passou-se para a fase de sonorização. Para narrar os versos foram convidados Sandrelly, da banda de forró Pé d'Cana. Os usuários do MadMud, William P. e Leo D., foram os responsáveis por gravar a narração e compor a música.




A narrativa a seguir é contada através de versos em sextilha e imagens animadas a partir da técnica da xilogravura.
“Há muito tempo atrásNo sertão nordestino Um cabra de nome José Se apaixonou feito menino Por Maria filha de um coroné De nome chamado Agripino
Maria e José às escondidas Viviam num chamego arretado Mas depois da missa no fim do dia A menina com o coração apertado Disse a triste notícia: Seu destino já estava traçado
Seu pai já a tinha encomendado Para Bento, filho do cumpade da região Ao saber José subiu o morro até a beirada E rezando com muita devoção Disse que faria qualquer coisa Para ter muito dinheiro na mão
José tinha decidido pular Quando um homem de capuz e manto se aproximou Dizendo que o podia ajudar José prontamente em voz alta retrucou Quem ele era? Aonde queria chegar?
O homem misterioso explicou: Sou apenas um amigo E vim te socorrer Plante essa semente na noite de lua cheia E no outro dia você vai ver Riquezas e prosperidades dinheiro para dar e vender
Chegou o dia da lua cheia E José fez o que o estranho pediu Plantou a semente no local Onde o acesso ninguém nunca viu No outro dia foi verificar A pequena árvore que surgiu
No lugar das flores e dos frutos A árvore deu muito dinheiro José começou a colher tudo E deixou os bolsos cheios E correndo à cidade comprou Roupa boa e água de cheiro
Em um mês Maria se casou Não com o Bento, filho do cumpade E sim com quem sempre amou José, agora com terra pela cidade Um cabra rico se transformou Com muito poder e prosperidade
José se transformou no mais rico do sertão Suas terras eram tão extensas Que se perdiam da visão E com um arame de espessura densa Restringiu o acesso da população A árvore que cuidava com tanta veemência
Eles tiveram filhos E foram felizes assim por muito tempo Dinheiro, poder e muito brilho Nada melhor para o seu contentamento Mais um dia a árvore morta amanheceu E José se espantou com o acontecimento
Já tendo tudo que queria Resolveu tocar a vida Sem muita preocupação Porém, José não sabia da real situação Foi quando um barulho forte à sua porta Chamou sua atenção
José pegou sua espingarda E se dirigiu até o portão Quando avistou o encapuzado Que tinha oferecido a semente da salvação E perguntou ao desgraçado O que ele queria então
O homem veio cobrar a dívida E José indagando irado com a questão Parou quando o cabra tirou o capuz e disse: Sua alma é a negociação José assustado deu um passo atrás e percebeu Que se tratava do próprio Satanás
José então desapareceu e ninguém Nunca mais o veria Mas dizem que em noite de lua Nas madrugadas mais frias Pode-se ouvir os gritos de José Chamando por Maria”.
Da Árvore do Dinheiro à Moral das Histórias
O homem contemporâneo se apresenta como um ser narcisista e individualista porque só se interessa por si, não sendo um ser coletivo preocupado com a comunidade. Temos na obra clássica da literatura ocidental e medieval o anti-herói Fausto que obcecado pela sede do saber, firma um pacto com o demônio, Mefistófeles, cuja aliança o conduzirá aos prazeres do conhecimento, da vida e do amor, representando na sua narrativa de anti-herói o homem contemporâneo, moderno.
Fausto aspira, acima de tudo, viver a felicidade. Tão remota lhe parece essa possibilidade, que ele se dispõe a entregar a alma ao demônio em troca de uma vivência, embora breve, desse sentimento. E como um anjo das trevas, o terrível Mefistófeles, domina a alma de Fausto, homem que é o símbolo de uma humanidade que errou procurando um caminho que a levasse ao ideal desesperadamente buscado. E como no nosso objeto empírico, Fausto deverá, no entanto, pagar um preço a Mefistófeles: entregar-se a ele. Nesse instante, o Diabo terá vencido Deus.
Na modernidade, há uma desvalorização de conceitos tradicionais como verdade, povo, nação, amor, respeito e família. O Deus, único dos católicos é tido como morto, a instituição do casamento é tida como instituição quebrável, as lojas de sex shop são onde se compra o fetiche e o prazer sexual e a Internet é o veículo de comunicação interpessoal de negócios, divertimento e informação. A arte e a literatura não escapam desta nova lógica, constituindo toda uma nova gramática. A cultura do ornamento e do signo, pastiche, revivals , ecletismo são alguns elementos desta nova composição.
A produção áudio-visual, da qual a animação faz parte, reflete o que já está permitido, então as pessoas introjetam estes novos valores. A característica do homem moderno construído através da mídia é que ele se permite experimentar, ele é contagiado com as novas formas de pensar e viver, este novo homem é capaz de transformar a tradição e partir para modernizá-la. A coragem deste enfrentamento pode servir como parâmetro de comparação com a atitude do protagonista que vive a jornada a seguir comentada, arcando com as mais diversas conseqüências.
Pode-se analisar, no vídeo, “A Árvore do Dinheiro”, que a narrativa dá-se no momento histórico do coronelismo do sertão nordestino. José, um rapaz humilde, em seu Mundo comum, apaixona-se por Maria, filha de um coronel. Percebe-se que o amor de José por Maria é o amor cortês que foi difundido na Europa no século XII,
“contemporaneamente aos lais bretões que atraiam o gosto das cortes para as emoções do amor e do maravilhoso feérico, surge o romance cortês, também de matéria bretã, o qual acaba por substituir as canções de gesta carolíngeas no gosto do público culto. A voga do romance cortês nas cortes européias teve início na corte de Marie de France, na Champagne”( Coelho, 2003:60-61).
O protagonista da história recebe o Chamado à aventura quando sabe, por Maria depois da missa, que a mesma foi oferecida por seu pai para casar com outro rapaz. Rituais católicos – missa e casamento – pontuam como Arautos a jornada de José, chamando-o para entrar na aventura.
José na angústia de perder sua amada (deuteragonista – personagem secundária na trama), vai rezar no morro pedindo a Deus uma solução e se colocando à disposição até mesmo para a Morte (suicídio). Como Moisés e Jesus rezaram no morro, José encontra neste lugar resignação e a solução.
Neste momento, o protagonista é abordado por um “estranho” que assume o arquétipo de Camaleão, transvestindo-se de homem misterioso portando capuz e cajado que se revela ao final da trama como o próprio Satanás.
O “estranho” também assume o papel de anti-mentor aconselhando o protagonista a plantar uma semente em noite de lua cheia que irá solucionar seu problema: obter riqueza, prosperidade e assim, podendo casar-se com Maria, seu grande amor. Esta característica de anti-mentor é ressaltada pelo presente mágico - a semente - que vai conduzir o herói a uma conduta que privilegia a ganância e o poder. Que representa, neste caso, o poder no sertão: terra, gado e dinheiro, tudo cercado por José. Contudo, esta semente além de trazer a “salvação” também vai representar a sua desgraça, pois o Satanás cobrará a dívida não negociada: a alma pela semente. O pacto com o Diabo travado por José é o mesmo que Fausto realiza com Mefistófeles.
Com a união de José e Maria, nota-se a vida harmoniosa e feliz do casal que tem filhos e cultiva uma árvore que em vez de produzir frutos, dá dinheiro. Esta árvore além de Aliada de José pode ser interpretada como presente mágico do anti-mentor xamã – possuidor de poderes sobrenaturais.
A etapa da Aproximação da caverna oculta é iniciada quando José percebe que a árvore morreu. Este evento, na verdade, é um prenúncio do porvir de José. Mesmo assim, o herói continua sua vida normalmente, mas sua Provação ainda virá. O encontro de José com o Sombra – seu antagonista – marca esta etapa. O confronto de José com o Diabo é realizado através da cobrança da dívida pendente.
Ao final da narrativa José desaparece com o diabo fazendo-se ouvir nas noites frias de lua cheia gritando por Maria. Nota-se um final infeliz marcado pela punição do herói por seus atos indevidos.
O narrador da história é onisciente neutro – aquele que narra “de cima”, adotando um ponto de vista divino, que sabe do começo, meio e fim da história. Representando, portanto, a consciência cristã que transmite a moral e os bons costumes aos interlocutores. No entanto, não interfere com instruções ou comentários sobre o comportamento das personagens. (Leite, 1987).
O vídeo é todo em preto e branco exceto em algumas passagens da história quando a cor vermelha recebe destaque nos grafismos em formato de coração. Estes momentos são percebidos quando José avista Maria com o pai no carro de boi e se apaixona feito menino; na flor que José dá para Maria na época do namoro e na representação do amor dos filhos. Finalizando a utilização do vermelho como cor de destaque, o Satanás apresenta-se a José na cor vermelha simbolicamente relacionada à paixão, dor, sexo e sangue.
O momento mítico da noite de lua cheia ressaltado também na trama pontua duas passagens relevantes: o plantio da semente mágica – onde a problematização da história inicia-se - e na transformação da história de José em lenda marcada por seus gritos chamando por Maria – finalizando a história e imprimindo a aura de mistério e medo da punição divina.~

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